sexta-feira, 21 de novembro de 2008

RESUMÃO

" Do italiano pelle agra, pele áspera, veio o termo pelagra para designar uma patologia caracterizada por dermatose que acometia povos assumidamente grandes consumidores de milho, como os italianos e os norte-americanos. Mais uma vez foi Funk que ligou o problema a uma deficiência alimentar que poderia ser evitado com o consumo de leite, ovos e carne.

Goldberger, outro grande estudioso das vitaminas conseguiu, usando dietas deficientes, provocar a chamada língua negra em cães, somente pecando por achar que a deficiência seria de aminoácidos. Mais tarde foi sabido que a pelagra poderia ser prevenida com o uso de preparações de vitamina B solúvel na água contendo um fator resistente ao calor. Lá por 1935 foi que Warburg isolou a amida do ácido nicotínico (nicotinamida) de coenzimas das hemácias do cavalo. Dois anos após, Elvehjem mostrou que a nicotinamida contida no fígado era eficaz no tratamento da pelagra e da língua negra. Goldberger, com grande perspicácia, mostrou que o triptofano podia curar a pelagra humana por ser convertido pelo organismo em ácido nicotínico.

A pá de cal no assunto foi colocada por Goldshmidt, já em 1958, quando provocou pelagra experimentalmente em humanos alimentados com dieta pobre em ácido nicotínico e triptofano. Como pode ser sintetizada a partir do aminoácido essencial triptofano (cada 60 mg de triptofano fornecido pela dieta dá origem a 1 mg de niacina), alguns autores não consideram a niacina uma verdadeira vitamina.

A pelagra já foi endêmica na América do Sul e outras partes do mundo, o que, era determinado pelo alto consumo do milho. Mas, nem tudo está bem explicado porque há povos que consomem muito milho como principal fonte proteica e não têm pelagra. E, embora o milho tenha pouca niacina, há outros cereais com conteúdo semelhante que não são associados à pelagra. A doença seria mais por um balanceamento inadequado de aminoácidos na dieta ou um problema de complexidade muito maior? Mistério, diria o nosso pároco numa introspectiva homilia. A moagem do milho prejudica a bioavaliabilidade da niacina.

O ácido nicotínico somente exerce as suas funções orgânicas ao ser convertido em nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) ou nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP), que servem como coenzima para uma série de proteínas que catalizam uma série de reações de oxi-redução essenciais para a respiração dos tecidos. O termo niacina engloba o ácido nicotínico, a NAD e a NADP.

Os sinais de intoxicação pelo ácido nicotínico (ácido piridino 3 carboxílico) são o prurido (coceira), o rubor da pele, intoxicação hepática, ativação de úlcera péptica e alterações gastrintestinais.
O sinais da dermatose simétrica provocada pela pelagra lembram os da queimadura solar e surgem no dorso da mão (pode evoluir como lesão em luva, a luva pelagrosa), testa, pescoço (colar de Casal)e pés, muitas vezes como uma bota (bota pelagrosa); como vê-se, aparece nas regiões expostas aos raios solares e parece ser devida a fotossensibilização (para outros autores, os raios solares seriam apenas fatores irritantes que piorariam a dermatose) e termina em descamação e formação de cicatrizes (algumas vezes predominam as bolhas e as vesículas, o tipo úmido).

Apresenta a pelagra também sinais digestivos, como estomatite, glossite (primeiramente aparecem as lesões vermelhas e inchadas na ponta e nas margens laterais, evoluindo para atingir toda a língua. Podem haver ulcerações), muitas vezes associadas a vaginite, enterite e diarréia, náuseas e vômitos, e sinais neurológicos como insônia, depressão, fadiga, apatia, perda da memória, desorientação, halucinações, demência, além de distúrbios sensoriais e motores dos nervos periféricos (acha-se que a polineurite periférica seja devida à ausência de outras vitaminas). É a síndrome dos três D (diarréia, demência, dermatite). Os sinais mentais talvez surjam pela queda na conversão do triptofano em serotonina, o chamado hormônio do prazer.

As fontes principais do ácido nicotínico são as carnes de gado, a carne magra de porco, o fígado, o frango, o peixe (o salmão é muito rico), os grãos integrais, os cereais enriquecidos, os legumes e as nozes. O triptofano, aminoácido essencial, é fornecido principalmente pelas proteínas animais. O leite e o ovo contêm pouca niacina, mas são ricos em triptofano, o que, lhes confere papel importante na profilaxia da pelagra. Nunca é demais lembrar que as proteínas do leite e do ovo são as únicas da dieta comum que são completas, isso é, possuem todos os aminoácidos essenciais. Parte da niacina contida em alguns alimentos, como certos cereais, está na forma conjugada e não pode ser disponibilizada do ponto de vista nutricional. Por ser estável, os níveis de niacina pouco são afetados pelo cozimento ou a fervura dos alimentos.

Tanto o ácido nicotínico como a nicotinamida são absorvidos por todo o trato intestinal, por vias passiva e ativa, numa média entre 3 a 4g/dia num adulto humano, e distribuem-se por todos os tecidos. Um quinto é transformado em ácido nicotinúrico e o restante é eliminado na urina principalmente como carboxamida metil piridona e metilnicotinamida.

As necessidades humanas diárias variam de 5 mg/dia na infância até 20 mg/dia nas mulheres em lactação. Ao contrário de outras vitaminas, as necessidades parecem não aumentar durante a gravidez. As necessidades aumentam em quadros em que o triptofano é altamente catabolizado, como a síndrome carcinóide, ou pobremente absorvido como na doença de Hartnup (herdada, autossômica recessiva, com deficiência do transporte de aminoácidos e que, entre os sinais clínicos, apresenta dermatose semelhante à pelagra). Lembrar que altas doses de niacina (10 vezes maior do que as doses recomendadas nos pássaros) podem provocar flushing, sensação de calor e de queimação e, nos casos mais graves, evoluir para hepatoxiidade, colestase (retenção biliar) e icterícia (amarelão da pele e mucosas determinado pela bilirrubina).

Um dado terapêutico interessante: embora a pelagra responda bem ao ácido nicotínico ou seus congêneres, a neurite periférica não responde a eles e sim à tiamina. Alguns autores aconselham acrescentar a riboflavina e a piridoxina nos casos de pelagra mais resistente. A evolução da pelagra é longa e progressiva, às vezes durante anos, e a morte acontece normalmente por complicações secundárias. Volto a lembrar que a deficiência geralmente não se restringe a uma só vitamina do complexo B, o que, determina que um grupo delas deve sempre entrar no raciocínio de quem traça um esquema profilático e terapêutico."

By: Ivana Melo

Fonte: http://www.cobrap.org.br/site/artigos_vis.php?id=414

Bom, acima tem uma explicação bem simples sobre a niacina e a pelagra, principais aspectos e algumas curiosidades. Obs.: "Os sinais mentais talvez surjam pela queda na conversão do triptofano em serotonina", creio que não há relação com demência e sim a a síndrome de carcinóide.

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